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Adriano Marinho

Commercial & Business Manager

Em entrevista à Global Compact Network Portugal (GCNP), Adriano Marinho (AM), Commercial & Business Manger da Marisport, assume as dificuldades sentidas pela empresa, nestes tempos de pandemia, referindo que está a ser equacionado o “desenvolvimento de protótipos em 3D”, de modo a facilitar as reuniões e a conceção e desenvolvimento de produtos à distância. Adriano Marinho revela ainda que a organização prevê quebras acentuadas na época produtiva de Primavera/Verão de 2021, referindo, tendo em conta que “o mercado ainda não está adaptado a uma nova forma de vender, isto é, sem as feiras internacionais físicas que se utilizavam, as marcas terão de se reinventar na forma como vendem o seu produto, mas como tudo ainda é novo, a próxima época vai ressentir-se”.

Marisport

GCNP: Quais são, na sua perspetiva, os maiores desafios desta pandemia, para a sua organização e para as PME em geral?

AM: Ora aqui está uma pergunta de resposta muito complicada, na medida em que as incertezas atuais, quer da indefinição do rumo da pandemia Covid-19, quer dos próprios mercados externos, levam-nos a não podermos, sequer, ter algumas certezas.

Não obstante isto, a curto prazo os desafios são mais fáceis de enunciar, desde logo as dificuldades de tesouraria motivadas pela falta de receita, decorrentes do congelamento de encomendas por parte dos nossos clientes, do atraso de pagamentos e/ou prazos de pagamento muito extensos à prorrogação de envios de mercadorias. Ora, tudo isto condiciona a tesouraria de uma empresa.

Para além do exposto, sentimos o decréscimo de encomendas para esta estação produtiva que é a de Outono/Inverno de 2020, porém, a nosso ver, as maiores dificuldades sentir-se-ão na época produtiva de Primavera/Verão de 2021, de Setembro em diante, pelas razões que passo a enunciar: há uma diminuição do número de desenvolvimentos que dariam origem a produção; o mercado ainda não está adaptado a uma nova forma de vender, isto é, sem as feiras internacionais físicas que se utilizavam, as marcas terão de se reinventar na forma como vendem o seu produto, mas como tudo ainda é novo, a próxima época vai ressentir-se; e, não menos sério, os stocks deste verão que ainda não foram vendidos, quer nos pequenos negócios, quer nos grandes distribuidores e, até mesmo, nos armazéns dos próprios clientes, vão ter ser reciclados e reutilizados na próxima época de verão, logo a janela de produção para produtos de verão irá diminuir substancialmente, motivo pelo qual, a falta de trabalho generalizado na nossa área será, certamente, uma ideia que poderemos dar como certa.

Num nível mais interno, e porque somos uma empresa produtora de calçado, com produções estandardizadas e assente na mão-de-obra individual em cadeia, sentimos a falta de mão de obra motivada por alguns funcionários que vão ficando em casa, quer por quarentena profilática em virtude de algum sintoma parecido com a Covid-19, quer porque têm alguma patologia que obriga a um cuidado e distanciamento social e profissional, ou por terem de ficar em casa a tomar conta dos filhos, pais ou avós que requerem assistência. Em virtude disto, temos uma quebra de produção diária e perda de rentabilidade de mão-de-obra.

Com efeito, podemos referir que o que acabo de enunciar são os desafios atuais da nossa empresa, porém são muitas as condicionantes que obstam a uma certeza sobre quais os desafios futuros, pois não sabemos se o mercado irá reagir lentamente, abrindo pouco a pouco e incentivando um consumo normal e repondo a confiança, como não sabemos se virá uma segunda vaga de Covid-19, provocando um efeito catastrófico com o fecho de todo o comércio e obrigando, novamente, ao confinamento. Nesta hipótese catastrófica, viveríamos períodos muito difíceis e de rutura económica e social, com um efeito devastador na economia e nas PME.

De uma forma muito genérica, penso que podemos dizer que estes problemas e desafios serão ou poderão ser muito idênticos a qualquer outra PME no ramo da produção e exportação.

GCNP: O que é que a sua organização está a fazer em concreto para responder aos novos desafios de mercado impostos pela pandemia Covid-19?

AM: A própria tipologia do nosso produto não permite uma readaptação, isto é, produzidos calçado sob as instruções dos nossos clientes externos, exportamos 100% da nossa produção e dependemos dos desenvolvimentos dos mesmos.

Para já, o mercado ainda está a tentar entender as suas próprias necessidades, neste momento temos a época produtiva já “fechada”, melhor dizendo, os desenvolvimentos de protótipos e amostras que fizemos na estação passada deram origem às produções que teremos até meados de Agosto e não há muito que possamos fazer ou reinventar para alterar, seja de que forma for, o tipo ou tipologia de produto a produzir, uma porque não existem grandes alternativas no nosso ramo, outra porque dependemos das instruções dos nosso clientes externos, oriundos de marcas de mercado médio/alto italianas, francesas, holandesas e inglesas.

Porém, estamos a equacionar os desenvolvimentos em 3D numa fase inicial, não recorrendo às amostras físicas, para facilitar as reuniões de desenvolvimentos à distância e por vídeo chamada, esta é, in casu, das únicas medidas que têm sido implementadas cá na empresa, coisa que até então não era muito bem recebida pelos nossos clientes.

GCNP: O que é que considera que deve ser feito, nomeadamente pelas PME, para que a economia recupere desta crise e se construa uma sociedade mais resiliente?

AM: Neste momento, a única coisa que podemos fazer é reforçar medidas de higiene e segurança no trabalho, tanto pelo integridade da saúde dos nossos funcionários, como também para obstar a paragens forçadas da empresas por imposições administrativas em virtude de aparecimento de casos de Covid-19, com isto estaremos a ajudar a obstaculizar a disseminação desta pandemia e, com efeito, a ajudar a economia a não parar.

GCNP: Acha que o mundo vai ficar igual após esta pandemia?

AP: Se aprendermos com a História, aprendemos que todos os grandes acontecimentos passados, negativos ou positivos, deixaram marcas.
Desde os confins da história que as sociedades evoluem. E agora não vai ser diferente.

A minha avó, quando eu me magoava em pequeno, costumava dizer-me: “não te preocupes, porque isso incha, desincha e passa!”. Na minha humilde opinião, é o que vai acontecer, na medida que, enquanto tudo estiver ainda muito presente, as pessoas irão limitar a proximidade social, irão limitar os afetos, os abraços e o calor humano, mas com o tempo tudo vai passando, as pessoas vão esquecendo e, pouco a pouco, tudo voltará ao normal. Independentemente disto, tenho assente que algumas regras de higiene irão manter-se para todo o sempre, quer nas instituições públicas, nos espaços públicos, nas superfícies comerciais, restauração, nas nossas empresas e afins, regras essas que sempre existiram, mas que ninguém cumpria com zelo, como a dificuldade que tínhamos em impor algumas regras de utilização de material de proteção nas nossas instalações, sendo que agora até já sentimos uma proatividade por parte dos funcionários no uso dos mesmos.

Irá existir uma mudança a nível de consciência social e uma mudança no sentido de prestarmos atenção aos sinais da natureza, esta experiência que vivenciamos vai fazer com que uma posterior notícia de surto na china não seja desvalorizada por tudo e todos os que nos representam, os mesmo que tinham e têm a obrigação de controlo sanitário e poder decisório mundial, europeu ou nacional.

Destarte, a grande questão é a de sabermos quanto tempo tem ou levará este “incha, desincha e passa”, pois vamos ter uma grande recessão económica e uma quebra enorme do consumo de bens que não sejam de primeira necessidade, a grande questão é saber se existirão retrocessos nesta aparente regressão da pandemia na europa, tudo dependerá da disseminação da pandemia, do aparecimento de uma vacina e/ou tratamento, pois só assim existirá, novamente, confiança para as pessoas esquecerem e voltarem a fazer a vida de outrora: sair, consumir e abraçar!

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